19 de fev. de 2013

BOA NOTÍCIA


BOM DIA!!!! (abrindo os braços, respirando fundo e saudando a todos com um humor 300% melhor que ontem)
 
Gosto muito mais dos prédios "velhos" de Porto Alegre, das linhas curvas, dos floreios e ornamentos; do que desses imensos radiadores espelhados que de humanos só têm mesmo alguns porteiros e indivíduos que por força do hábito ou da necessidade dispensam 2/3 de suas vidas na proteção dúbia dos úteros de concreto, indiferentes à passagem do tempo e das estações.
 
Gosto ainda mais de saber que o antigo Edifício Hermann, que fica na esquina da Rua dos Andradas com a Uruguai continuará resistindo à ganância das empreiteiras:
 
De fato, uma boa notícia pra começar esta terça-feira!

XÔ!


17 de fev. de 2013

DE APOCALIPSE EM APOCALIPSE


Primeira impressão do fim do horário de verão: nem a horinha a mais que ganhamos vai impedir que este último domingo de Graça, antes que POA volte à loucura habitual passe depressa demais.
 
Amanhã a esta hora, a Goethe (como todo o resto da cidade num raio de 500 metros de qualquer via asfaltada) vai estar intransitável. Ainda mais com as "obras da copa" que deveriam ter sido finalizadas dia 17 de fevereiro, mas vão seguir março a dentro, quem sabe abril, maio, junho, até julho de 2014.
 
Mas talvez o mundo acabe antes: à renúncia do Papa Bento XVI (o de "Gloria Olivae" que seria o penúltimo segundo o vaticínio de São Malaquias - o último, "Pedro Romano": "Tu, in desolacione suprema sede. Ecce Petrus Romanus, ultimus Dei veri Pontifex!" [“Na suprema desolação do mundo, reinará Pedro, o Romano, o último papa do Deus verdadeiro!”]); somaram-se os meteoros na Rússia (ainda há controvérsia se a "bola luminosa" avistada na Califórnia seria também um meteoro) e um terremoto menor em Roma.
 
Segundo uma foto que se tornou popular aqui no FB, tudo isso teria sido (convenientemente) previsto por Nostradamus (é claro!).
 
Nela se leem os seguintes versinhos:
 
''O homem de Roma deixara seu posto
A fé humana se cobrirá por um véu
A morte, então, revelará seu rosto
Enviando rochas e fogo do céu
O Reino do Czar sentirá o primeiro corte
E no mundo todo imperará a morte
A morte abandonará o caixão
Para devorar a carne do irmão"
(Nostradamus - II, 20,13)
 
Puxa, isso tá mais pra menos inspirada de todas as quadras do Fernando Pessoa, aquela que ele teria escrito e enfiado a cabeça no penico de vergonha; do que pra Nostradamus, que estava tão ocupado em obscurecer suas "profecias" que acabou esquecendo das rimas.
 
Não por acaso, tenho as profecias em edição impressa, então, já que esses versinhos andam circulando por aí, vamos conferir?
 
Puxa, será que a Martin Claret imprimiu errado?
 
No meu livrinho aqui, a Quadra 13 da Centúria II diz assim:
 
"O corpo sem alma não estará em sacrifício, o dia da morte será do renascimento, o espírito divino fará a alma feliz, contemplando o verbo em sua eternidade";
 
E na Quadra 20 se lê:
 
"Irmãos e irmãs cativos em diversos lugares se encontrarão ao passar próximos ao monarca. Seus atentos herdeiros os contemplarão com desagrado ao verem suas marcas no queixo, na testa e no nariz."
 
Moral da história: a internet tá cada dia mais cheia de espíritos de porco.
 
Enfim... BOM DIA!!!

16 de fev. de 2013

NÃO ME PERGUNTE SE É MANTEIGA OU MARGARINA


Hoje me deparei com um texto sobre manteiga x margarina, que começava dizendo que a margarina foi inventada para engordar perus, mas como os perus acabaram morrendo ela foi parar na nossa mesa.

Isso não é verdade. Segundo consta, a margarina foi inventada no final do século XIX para substituir a manteiga nos alforges dos soldados e era derivada da banha de baleia, passou para a base vegetal com o advento do sistema de monocultura adotado pela agroindústria mecanizada norte-americana do pós-guerra que gerou excedentes de milho e amendoim, razão de existir dos gigantes da indústria de alimentos, que, além de brindar nossas mesas com seus subprodutos embelezam nossas vidas com as dionisíacas criações da sua fantástica fábrica da propaganda.

Tendo como pano de fundo invariável cenas de um dia-a-dia paradisíaco povoadas por Barbies, Kens e seus pimpolhos sempre felizes e saudáveis os comerciais nos apresentam a margarina como a melhor opção para uma existência saudável e feliz. Eventualmente essa fantasia toda faz referência aos óleos polisaturados de origem vegetal.

O que os anunciantes NÃO estão dizendo é que os óleos se transformam em margarina por hidrogenação, que é o processo que torna a margarina cremosa. Sem ele, a margarina jamais teria chegado à audácia de competir com a manteiga pelo assento de honra no pão nosso de cada dia; teria virado um óleo insosso e caro demais pra fritar batatinhas.

O problema com as gorduras vegetais hidrogenadas é que nada no longo processo evolutivo que culminou no atual metabolismo de nossos corpos nos preparara para lidar confortavelmente com a ingesta de um elemento essencialmente artificial.

Tanto que pesquisas científicas já confirmaram a correlação entre óbitos por doenças cardíacas e o consumo de gorduras vegetais hidrogenadas.

Ainda assim, seguimos bombardeados por excertos de pura felicidade doméstica patrocinados pela presença desta ou daquela margarina à mesa do café da manhã.

A mesma indústria que investe bilhões para nos convencer que a margarina "faz bem pro coração", esquece de mencionar que por ter um ponto de fusão mais elevado que as gorduras naturais, a margarina não é aproveitada por nosso organismo: ela não "derrete" o suficiente para entrar na corrente sanguínea e permear nossos tecidos fornecendo os nutrientes de que necessitamos.

Pior, a margarina pode romper a permeabilidade das membranas impedindo o transporte normal de nutrientes no nível celular.

45% da massa da margarina se compõe dessas gorduras. Isso pra não entrar na seara dos flavorizantes, acidulantes, espessantes e todos os outros "antes" cujas consequências vamos sentir anos depois.

E tem mais: as gorduras vegetais hidrogenadas produzem uma deficiência de ácidos graxos essenciais destruindo-os e chegando mesmo a produzir ácidos graxos tóxicos.

Vale ressaltar que a deficiência em ácidos graxos contribui para o surgimento de doenças neurológicas, cardíacas, arterosclerose, doenças da pele e condições degenerativas como a catarata, a artrite e o próprio câncer.

Além disso, a conversão dos óleos na forma hidrogenada impede a formação adequada de bílis no fígado a partir do colesterol, podendo elevar a colesterol no sangue. Ao contrário do que alardeiam os comerciais, a margarina pode aumentar o colesterol.

Leite, nata, queijo, manteiga e ovos (os grandes vilões da segunda metade do século passado) não têm qualquer efeito consistente sobre o colesterol no sangue. Mais: as marcas mais populares de margarina contêm mais colesterol que a manteiga.

Se na próxima ida ao supermercado você ainda tiver alguma dúvida entre levar um pacote de manteiga e um pote de margarina, lembre:

1 - margarina e manteiga não se misturam: a primeira é um produto químico, a segunda um derivado de um produto 100% natural;

2 - a manteiga é 100% derivada do leite; a margarina é o resultado da combinação de derivados de óleos naturais com inúmeros compostos químicos - alguns inorgânicos;

3 - NENHUM cientista sério foi capaz de estabelecer qualquer correlação entre a manteiga e a elevação do colesterol; 

4 - se fosse esse o caso, a intolerância à lactose entre os humanos seria a regra e não a excessão: se o consumo de manteiga que praticamos há milhares de anos fosse tão nocivo assim, a própria evolução teria dado conta do recado;

5 - ao contrário do que apregoa a "criativa" (pra não dizer milionária) indústria da propaganda, manteiga e margarina têm EXATAMENTE O MESMO VALOR CALÓRICO (100 calorias por colher de sopa) - curto e grosso: você só perde peso comendo margarina porque ela é um elemento tóxico alienígena para o seu metabolismo;

6 - finalmente, ao contrário do que apregoam as dietas das celebridades, gorduras são essenciais à uma dieta bem equilibrada. Pergunte isso a um atleta de alto desempenho: ele (ou ela) jamais teria chegado ao ouro sem nenhuma gordurinha amiga no prato todo o dia.


Mais umas coisinhas: se você não consegue viver sem sua margarina de cada dia, evite o uso ao menos durante a gestação e amamentação, pois as gorduras hidrogenadas da margarina irão direto para o seu bebê.

Outra coisa: o consumo de margarina afeta o sistema imunológico baixando a eficiência das células B (que produzem imunoglobulinas) e aumentando a proliferação de células T (pertencentes ao grupo dos glóbulos brancos).

Além disso, o consumo de margarina influencia o nível de insulina no sangue aumentando o risco de diabetes.

E pra quem leu até aqui, segue de brinde uma receitinha deliciosa com bastante manteiga:


ENROLADINHOS DE QUEIJO


Para a massa, você vai precisar:

Manteiga - 250g (de preferência à temperatura ambiente e cortada em pedacinhos)
Farinha de trigo - ½ kg
Leite - 1 xícara (mais ou menos 200ml) 
Sal - 1 colher de café
Fermento em pó - 1 colher  de sopa

Para o recheio precisa:

Manteiga (sim!) - 250g 
Queijo parmesão ralado - 250g

Mãos à obra!!!

Vamos começar pelo recheio:

Misture a manteiga com o queijo ralado e amasse bem até formar uma pasta homogênea

Feito isso, deixe descansar enquanto prepara a massa:

Peneire juntos a farinha, o fermento e o sal, e faça um vulcão com eles caprichando na cavidade ao centro. Encha a cavidade com a manteiga e vá amassando com as pontas dos dedos, juntando o leite aos poucos (mas bem aos pouquinhos mesmo: o leite só serve pra ajudar a massa a ficar fofa, mas não a ponto de fazer com que grude nas mãos). Pra ficar boa, a massa tem que ser bem lisinha e firme, e sair dos dedos com facilidade.

Divida a massa em 4 partes iguais e vá abrindo uma a uma com o rolo numa superfície ligeiramente polvilhada de farinha. Sobre cada pedaço estendido, distribua uma camada pa pasta de queijo e manteiga preparada para o recheio.

Faça então um rocambole com cada uma das partes, enrole em filme plástico e ponha no congelador por algumas horas (o suficiente para ficar bem firme).

Depois disso, desenrole e corte os rocamboles em fatias e uns 4mm de espessura. (Se quiser os biscoitos bem crocantinhos, corte as fatias mais finas.)

Leve ao forno numa assadeira de metal forrada com papel manteiga levemente untado e deixe assar até que fiquem douradinhos.

Depois de prontos, deixe esfriar e guarde de preferência num recipiente de vidro. Aliás, vai a dica: se quer que os biscoitos feitos em casa durem mais, nunca acondicione  em sacos ou recipientes plásticos; prefira sacos de papel e jarras de vidro ou latas.

14 de fev. de 2013

VÓ É A VÓ!


BOM DIA!!!!
 
Recém havia parado numa sinaleira com minha irmã ao lado quando reparei num rapaz que vendia o jornalzinho Boca da Rua (que eu até compro de vez em quando), acenando e chamando:
 
- Vó! Vó!
 
Eu olhei pra ela, ela olhou pra mim, nós duas olhamos pro rapaz, ele olhou pra mim e chamou de novo:
 
- Vó! Tu mesma!
 
Nos olhamos e caímos na gargalhada.
 
Cá entre nós, tive ganas de parar na primeira farmácia, e comprar a tinta mágica da L'Oreal que me devolve trinta anos em 20 minutos. Contive o impulso, fiel à resolução de Ano Novo de deixar que meus cabelos sigam seu curso natural.
 
E hoje acordei para um lindo dia, meu lírio começa a abrir mais três botões, e apesar da dor nas costas não me sinto mais velha do que me sentia aos 17 anos quando juntava minha voz à do ao Ian Anderson, e com os olhos marejados, a plenos pulmões, repetia o mantra:
No, you're never too old to Rock'n'Roll if you're too young to die.

7 de fev. de 2013

SABENDO USAR...


Ano passado, enquanto a população aproveitava as férias no litoral, a prefeitura de POA aproveitava para derrubar uma figueira centenária bem no centro da cidade.

Um tempo atrás, foram as árvores da Praça da Alfândega, por estarem tornando o ambiente insalubre, depois de décadas de total abandono.

Nestas férias, a prefeitura voltou à carga com a derrubada de uma série de árvores  na av. Edvaldo  Pereira Paiva, próximo ao Gasômetro.

Anos atrás, quando reclamei do desleixo da SMAM em remover a erva de passarinho das árvores da cidade, fui informada que o serviço de manutenção representava um custo inútil, já que a erva voltava a crescer; e que pelas árvores em questão não se tratarem de espécies nativas, seu cuidado não era prioritário.

Desta vez, as árvores cedem espaço à duplicação da avenida (que integra o Plano Diretor da cidade desde 1985); parte do "conjunto de obras" para a copa do mundo. Serão removidas, no total, 115 árvores de espécies "exóticas" - aquelas mesmo que só representam custo por serem mais suscetíveis à infestação por pragas e ervas daninhas.

Mas voltando à derrubada das árvores da Edvaldo Pereira Paiva, o que mais chamou atenção nas mídias sociais foi a pérola do prefeito Fortunati: “As pessoas não utilizam estas árvores no Gasômetro”, que acabou virando piada de mau gosto.

A essa bobagem, eu gostaria de responder que tem um plátano centenário aqui bem na frente da minha janela. Está tão tomado de ervas de passarinho que só dá pra diferenciar suas folhas das ervas no outono e no inverno, porque as folhas do plátano amarelam e caem, só voltando no começo da primavera. De tão estressado pelo excesso de ervas daninhas, o plátano já não hiberna mais. Explico: como são árvores características de climas frios, seguindo-se à queda das folhas no outono, os plátanos ficam com o tronco todo branquinho, e entram num estado de dormência, resguardando suas energias para a florescência na primavera.

O plátano em frente a minha janela já não hiberna há três anos. Está morrendo lentamente. Logo seus galhos apodrecerão e começarão a cair em cima de carros e fios. Vai chegar ao ponto de agradecer pelo dia em que a SMAM chegar com suas  motosserras para livrá-lo da longa agonia.

Mas enquanto há tempo, saiba sr. prefeito que eu "utilizo" esta árvore toda a vez que olho pela janela - o que acontece algumas centenas de vezes por dia, que ela me enche os olhos e o coração e me faz feliz.

Saiba também, que as pessoas que visitam as casas e escritórios na minha rua também a utilizam para estacionar sob sua generosa sombra.

E, finalmente, há que lembrar dos passarinhos: sabiás, bem-te-vis, sanhaçus cinzentos e do papo amarelo; das maritacas e dos papagaios que se alimentam de suas sementes, dos pica-paus e das pombas rolas que vejo todos os dias. Para eles é indiferente se o plátano é uma árvore "exótica" ou não.

Finalmente, sobre esse frenesi de "obras para a copa", gostaria de lembrar que a copa do mundo em Porto Alegre vai se resumir a 5 jogos do Grupo E nos dias 18, 22, 25 e 30 de junho. A copa do mundo não vai durar sequer 15 dias em Porto Alegre.

Essa caravana vai chegar e passar como um raio, deixando para trás as dívidas milionárias com as empreiteiras amiguinhas da FIFA, que vamos levar décadas para pagar.

5 de fev. de 2013

NUM DIA COMO OUTRO QUALQUER...




5 de fevereiro de 1919 foi um dia como qualquer outro para muitos bilhões de pessoas.

Mas em Hollywood, decididos a se livrar das amarras dos poderosos estúdios comerciais,  D.W. Griffith, Charlie Chaplin, Mary Pickford, Douglas Fairbanks e William Gibbs McAdoo (que não era ator, mas um senador democrata, ex-Secretário do Tesouro e genro do presidente Woodrow Wilson), fundavam a United Artists.

Desde 1918, quando Faribanks, Chaplin, Pickford e o astro cowboy William S. Heart percorreram juntos o país vendendo bônus para ajudar os esforços do país na I Guerra Mundial. Entre uma conversa e outra, e muitas reclamações sobre más condições de trabalho e limites impostos à criatividade pelos interesses comerciais dos grandes estúdios da época, a certa altura veio a ideia.

Os internos estão tomando o asilo. - foi a reação jocosa de Richard A. Rowland, cabeça da Metro Pictures (que viria a se tornar Metro Goldwyn-Mayer em 1925) à fundação da UA.

Isso dá uma boa ideia de como os artistas, que são corpo e sangue do cinema, eram (e continuam sendo) vistos pelos homens do dinheiro.

Em seus termos iniciais, a UA se propunha a produzir 5 filmes por ano, o que já entre 1920-21, tempo que levou para a companhia sair do papel e arregaçar as mangas, provou-se inviável dada a melhoria na qualidade de produção e a extensão da duração dos filmes para 90 minutos (8 rolos - se você já se perguntou porque o padrão de duração dos filmes da indústria cinematográfica é de 90 minutos, taí a resposta: dois projetores em cada sala de cinema, 4 rolos para cada um, facilitando o transporte e manuseio e com um intervalo aos 45 minutos aproximadamente para que as salas vendessem petiscos e bebidas incrementando a renda).

Em 1924, Griffth abandonou o barco. Os sócios então contrataram o veterano produtor Joseph Schenck para assumir a presidência da UA. Schenk. Provando que nepotismo não é exclusividade brasileira, ele trouxe na bagagem sua mulher (Norma Talmadge); sua cunhada (Constance Talmadge) e seu cunhado (ninguém menos que Buster Keaton).

Também por sua iniciativa a companhia assinou com produtores independentes como Samuel Glodwyn, Alexander Korda e Howard Hughes. Também foi de Schenck a ideia de criar uma sociedade paralela para a construção de salas de exibição sob o nome da United Artists, bem como expandir a área de operações para o Canadá e o México.

Na década de 30 a UA já era representada em 40 países.

Mas essas conquistas não implicaram em bonança: o dia-a-dia da UA era de luta e muito trabalho. Em 1933, Schenck se demitiu para fundar a 20th Century Pictures que logo passou a fornecer quatro filmes por ano à United Artists.

Como Pickford e Faribanks haviam encerrado suas carreiras e Chaplin estava tão rico que só trabalhava no quê queria e quando queria; a UA produziu poucos filmes por conta própria, e em muitas vezes tendo nomes como Glodwyn, Korda, Walt Disney, Walter Wanger e David Selznick como parceiros.

Com o tempo, esses parceiros se dispersaram fundando suas próprias companhias e em 1940 a United Artists virtualmente deixara de existir, mas por uma boa causa: 

Em 1941, Mary Pickford, Charlie Chaplin, Walt Disney, Orson Welles, Samuel Goldwyn, David O. Selznick, Alexander Korda e Walter Wanger fundaram a SIMPP - Society of Independent Motion Picture Producers (sociedade de produtores independentes), que tinha por objetivo defender os interesses dos produtores independentes contra as práticas anti-competitivas dos grandes estúdios que controlavam a produção, distribuição e exibição de filmes.

É de iniciativa da SIMPP, por exemplo, o processo movido contra a Paramount por truste, por conspirar pelo monopólio das salas de exibição em Detroit. Pode parecer pouco, mas esse processo mudou a história do cinema nos Estados Unidos, pois em 1948, por ordem da Suprema Corte, os grandes estúdios de Hollywood tiveram que se desfazer de suas cadeias de teatros e abster-se de práticas anti-competitivas, decisão que lançou as bases da etrutura atual de produção e distribuição cinematográfica norte-americana.

Durante todo esse período em que a UA ficou em segundo plano, ela parecia destinada a desaparecer silenciosamente. Mas em 1951 dois advogados (Arthur Krim e Robert Benjamin) que haviam decidido aventurar-se juntos no fantástico mundo do cinema, buscaram Pickford e Chaplin com uma proposta maluca: assumir o controle da United Artists por 5 anos com opção de compra se ao final desses 5 anos a companhia fosse lucrativa.

Não vendo nada a perder, Pickford concordou imediatamente. Mas Chaplin só foi concordar em 1952, quando o governo americano revogou seu visto de entrada enquanto ele se achava em Londres para a estréia de Luzes da Ribalta.

Ao assumirem a UA, Krim e Benjamin logo trataram de se livrar dos custos fixos, criando o primeiro estúdio "sem estúdio": atuando mais como banqueiros que como produtores como até então se conhecia a função, eles se ofereciam para custear produções independentes, arrendando os estúdios da Pickford/Fairbanks quando necessário.

Dentre seus primeiros "clientes" destacam-se Sam Spiegel e a Horizon Productions, de John Huston. Logo vieram Stanley Kramer, Otto Preminger, Hill-Hecht-Lancaster Productions e diversos atores recém libertos de contratos e ansiosos por produzirem seus próprios filmes.

Em 1955, mesmo ano em que Pickford vendera sua parte da sociedade, a UA ganha seu primeiro Oscar pelo filme Marty, estrelado por Ernest Borgnine (agraciado na ocasião com o Oscar de melhor ator).

Em 1956, a UA torna-se uma sociedade de capital aberto e segue prosperando enquanto os grandes estúdios com estruturas arcaicas e pesados custos operacionais caíam em decadência.

Em 1958, sempre inovando, a UA cria a United Artists Records, inicialmente para lançar em disco as trilhas dos filmes. (A UAR acabará seguindo um curso próprio, abarcando diversos gêneros musicais, prosperando, fazendo fusões e direcionando o foco para longe do cinema até ser absorvida pela EMI em 1968.)

Em 1959, depois de encalhar diversos pilotos de séries para a televisão, a UA estréia na telinha pela NBC com a série The Troubleshooters.

Em 1960, atenta à rápida disseminação da tv, a UA cria uma divisão para a telinha, produzindo shows para a CBS e ABC; ao mesmo tempo que construía uma rentável biblioteca pela compra da Associated Artists Productions, proprietária das animações da Warner Bros e de vários curtas e animações da Paramount Pictures, que detinha, entre outros, todos os direitos da série do Popeye.

Em 1961, a United Artists lança West Side Story, e é agraciada com o recorde de 10 Oscars, incluindo o melhor filme.

Foi pela UA, em 1964, que os Beatles entraram no mercado norteamericano, com os filmes A Hard Day's Night e Help. Ainda com olhos voltados para o mercado criativo britânico, a UA investiu em trazer para a telona a popular série de novelas britânicas James Bond, de Ian Flemming - o resto desta história eu não preciso contar: a série continua gozando de estrondoso sucesso quase 50 anos depois.

1964 foi um ano bem movimentado na UA também pelo lançamento da primeira produção da subsidiária francesa da UA, L'Omme de Rio, que marca a estréia de Jean-Paul Belmondo em produções comerciais - até então ele só atuara em filmes mais cult, sob a direção de Godard e Melville.

Em 1967, Krim e Benjamin vendem o controle da UA à Transamerica Corporation, seguindo na direção, ao lado de Eric Pleskow; que com isso passa a ser só mais um ramo do gigante conglomerado.

Ainda assim, até 1978 a UA consegue manter o status criativo atraindo nomes como Woody Allen, Robert Altman, Milos Forman, Saul Zaentz e Brian de Palma, e, numa jogada mais comercialmente bem sucedida, lança as franquias "A Pantera Cor de Rosa" e "Rocky" (estrelado por Sylvester Stallone), enquanto segue lançando filmes da série James Bond.

Mas atritos constantes com o comando central da Transamerica, particularmente pelo lançamento de filmes como Midnight Cowboy e "O Último Tango em Paris" (taxados como "pornográficos" pela Motion Picture Association of America), culminaram com o pedido de demissão de Kim, Benjamin e Pleskow, fato que esquentou os ânimos em Hollywod a ponto de alguns nomes de peso se juntarem para publicar na mídia de Los Angeles um anúncio publicitário advertindo a Transamerica de que havia cometido um erro fatal ao deixá-los partir.

E não se pode dizer que estavam enganados, pois imediatamente após a saída to trio, a UA aventurou-se no que viria a ser conhecido como um dos maiores fracassos de bilheteria da história do cinema, ou "o filme que matou o western"; a milionária produção de "O Portal do Paraíso" (Heaven's Gate), dirigida por Michael Crimino, ganhador de um Oscar pelo filme "O Franco Atirador" (Deer Hunter). 45 milhões de dólares foram gastos na produção desse longa de 4 horas de duração em que, durante as filmagens, mais de uma vez o megalomaníaco diretor repetira mais de 50 tomadas para uma única cena.

Nem o lançamento de uma versão reduzida, com 149 minutos de duração salvou a UA do prejuízo de 98%, e o filme saiu de cartaz tendo rendido pouco mais de 1 milhão e uma Framboesa de Ouro para Crimino.

Paradoxalmente, esse fiasco é o que garantiu a sobrevivência do nome United Artists, já que antes dele a direção da gigante Transamerica vinha considerando mudar seu nome para Transamerica Pictures.

Na década de 80, provando que a ironia é uma constante na História, com a retirada da Transamerica do mercado cinematográfico, a UA foi abosrvida pela Metro Goldwyn-Mayer (o conglomerado que se tornada a Metro. Lembra a piadinha do asilo no começo deste post?).

Essencialmente falida, a UA ficou com as barbas de molho depois dos anos 90.

Em 1999, numa tentativa de ressuscitar a United Artists, Francis Ford Coppola ofereceu-se comprá-la, mas teve sua proposta rejeitada pela MGM. Conformou-se em assinar um contrato de produção com o estúdio, o que ajudou em seu reposicionamento como um "estúdio de especialidades", uma espécie de delicatessen cinematográfica.

Em 2005, Tom Cruise e sua parceira de produção Paula Wagner adquiriram 30% da UA, que foi renomeada United Artists Entertainment LLC, obtendo da controladora MGM a liberdade para produzir quatro filmes por ano.

Paula deixaria a UAE em 2008, não antes de trazer à telona sucessos como "Leões e Cordeiros" (Lions For Lambs) e "Operação Valquíria", ambos estrelados por Tom Cruise, tendo o último, apesar das críticas controversas, obtido uma arrecadação de 117 milhões de dólares por conta da audiência internacional.

Desde então a United Artists tem servido como mera co-produtora com a MGM, lançando recentemente filmes medíocres como o remake de "Fama" e "A Ressaca".

Um presente pálido, para um passado tão brilhante.

Foto: Griffith, Pickford, Chaplin (sentado) e Faribanks assinam o contrato de criação da United Artists, com a presença ao fundo dos advogados Albert Banzhaf (à esquerda) and Dennis F. O'Brien (à direita). Propriedade da Biblioteca do Congresso Norte-Americano.

4 de fev. de 2013

ONDE FICOU TODO MUNDO?




Já reparou que a cada ano Porto Alegre fica menos vazia no verão?

Talvez seja pela variedade de atrações como o Porto Verão Alegre, as centenas de praças ricamente arborizadas, as piscinas públicas (que são sete no total) e privadas em clubes, casas e coberturas; o Festival de Cinema, o Curta Nas Telas, as diversas mostras e cursos de verão, pra não falar no Liquida Porto Alegre (que deveria estar começando hoje); ou até mesmo pela ampla e variada oferta bronzeamento instantãneo (seja a jato ou nas mortíferas camas de bronzeamento).

Ou talvez porque cada vez mais gente tenha feito as contas e concluído que os benefícios do litoral gaúcho não compensam o custo do stress da superlotação nas estradas, ruas, bares, padarias, supermercados e areias no litoral; muito menos a frustrante vigília das noites assombradas por hordas adolescentes perambulando sem rumo e sem o menor respeito.

Enfim, voltando a Porto Alegre, a verdade é que o trânsito na cidade só está um pouquinho menos infernal que o costume; as filas nos supermercados, cinemas e casas noturnas só diminuíram um pouquinho e em alguns restaurantes encontrar uma mesa continua sendo o mesmo bilhete premiado de sempre, mesmo os finais de semana.

Talvez no próximo final de semana, com o carnaval, os "associados" da SAPA, (Sociedade dos Amigos de Porto Alegre), possam finalmente usufruir os privilégios de uma cidade pacificada pelo êxodo dos associados da SAB, (Sociedade dos dos Amigos do Bronzeador), e da SACAP (Sociedade dos Amigos do Carnaval de Praia).

E é isso.

Dia 24 a estação de veraneio termina oficialmente com o começo do novo ano letivo.

Se serve de consolo, pelo menos não vamos estranhar filas e engarrafamentos.

E assim, só fazendo alarde sobre as obras da copa, Porto Alegre passou definitivamente de aldeia a metrópole.

(foto: viaduto Otávio Rocha, que em 2014 estará comemorando 100 anos no papel. De fato serão 3 aniversários, pois mais adiante, em 1927 a obra foi aprovada para restaurar o curso da rua Duque de Caxias interrompido pela abertura da av. Borges de Medeiros; e, finalmente em 1932 o viaduto foi entregue à população. Uma curiosidade: os quatro passeios do viaduto ostentam os nomes das quatro estações.)