25 de fev. de 2010

A DIFERENÇA


Se você, como eu, sente aquele incômodo quando se fala na Amazônia. Se você, como eu, acredita que a parte brasileira da Amazônia é do Brasil; mas ao mesmo tempo entende que por suas dimensões, recursos e diversidade desempenha um papel fundamental à existência da vida no planeta como um todo; então assista ao vídeo acima, motive-se e faça alguma coisa a respeito enquanto há tempo.

A Fundação Villas-Bôas é uma ONG brasileira de quatro costados, formada por gente que conhece a problemática da Amazônia na teoria e na prática. Gente que precisa de nós pra botar em prática os seus projetos.

Vamos fazer a diferença.

11 de fev. de 2010

A TEORIA DE GAIA


Às vezes a gente se depara com um vídeo capaz de redimir o Youtube das centenas de terabytes de besteirol que armazena.

O vídeo acima é um desses (raros) casos. Simples, sem pretensões e direto, demonstrando a clareza que só emerge do conhecimento aliado à observação e elaboração. O texto é tão bom que merece ser repetido:

A Terra é um ser vivo.
A Terra sobreviverá à toda e qualquer tentativa do homem em destruí-la.
A humanidade é antes de tudo um perigo para ela mesma e não para a biosfera como um todo, embora estejamos modificando o seu aspecto.
As espécies evoluídas, as mais emblemáticas para a defesa do meio ambiente (salvo a nossa) são paradoxalmente as menos necessárias ao equilíbrio do sistema.
Saibamos nos proteger de nós mesmos, a natureza se encarregará de proteger a si mesma.
Pensar que a Terra está em perigo não tem nenhum sentido.
A Terra é como ela é, e somos nós que na escala do tempo (séculos ou milênios) estamos em perigo como espécie dominante, vivendo sem respeitá-la.
A cada 3 dias 7.500 crianças morrerão de paludismo*.
A cada 14 segundos, uma criança morrerá de AIDS.
A cada ano, 65 milhões de meninas continuarão proibidas de frequentar escolas; mais de 160 milhões de crianças sofrerão de desnutrição; 3.300 crianças morrerão de diarréia, consequência direta de água insalubre e falta de higiene.

A realização do vídeo é da ambientalista Carla Cristina Carvalho Daher, representante da Fundação Villas Boas na França.

O texto é de J. Lovelock, médico e biológo da NASA e UNICEF, e foi adaptado por Cristina Carvalho.

* malária

10 de fev. de 2010

"ELE" ESTÁ ENTRE NÓS


A gente sabia que era só questão de tempo. Agora não é mais: a dengue chegou de fato a Porto Alegre.

Até este momento, trata-se de mais um "caso importado" da doença. Mas há uma diferença: pela primeira vez a Secretaria de Saúde do município constatou a presença de mosquitos infectados no entorno da residência de um habitante de Petrópolis que voltou de férias do Mato Grosso infectado pela doença.

Ouvi no rádio, de passagem, ontem pela manhã enquanto preparava o almoço e quase que a notícia me passa batida pela correria do dia-a-dia. Mas hoje, ao ver-me arrancada dos braços de Morfeu às 5 da manhã pelas trombas inclementes dos nanovampiros a breve nota divulgada entre um comentário esportivo e mais uma crítica neoliberal ao governo Lula me tomou de assalto.

Durante o dia de ontem a Prefeitura realizou bloqueio na Avenida Guaporé entre a Bagé e a João Caetano, Travessa Professor Tupi Caldas e em trechos das avenidas Bagé, Luiz Manoel Gonzaga e Rua João Caetano entre as avenidas Guaporé e Carlos Gomes.

A Prefeitura faz o que pode, e até o momento tem vencido batalha por batalha dessa guerra que ela sabe perdida de antemão. E perdida não por incompetência, sequer por desleixo da população. É uma guerra perdida porque é travada contra a elite da força aérea da biomassa mais poderosa do planeta.

Se os mosquitos em geral são os caças da força aérea dos insetos, o Aedes é o temível bombardeiro stealth: seu ataque não é precedido por aquele incômodo zumbido e, se é verdade que prefere atacar durante o dia - no início da manhã e cair da tarde -, também não se faz de rogado se porventura deparar com uma presa à noite.

Nos 30 a 35 dias que voa por aí nos assombrando, a esposa do "seu" Aedes tem de 4 a 6 gestações de cerca de 100 bacurinhos cada. Dependendo da quantidade de sangue que ela conseguiu ingerir, uma ninhada pode chegar a 150, 200 ovos.

Como qualquer senhora da elite não sai largando ovos por aí como uma reles mosquita pra quem qualquer esgoto serve. Isso seria como madame encarando fila no postão pro pré-natal pra depois dar à luz de parto normal, sem nem uma peridural num hospital do SUS. Com uma autonomia de vôo de 3 quilômetros ela pode ser dar ao luxo de escolher os melhores resorts, digo maternidades, para seus pimpolhos. O plural aqui se explica porque a "dona" Aedes é esperta como a galinha amarelinha: nunca bota todos os ovinhos no mesmo ninho, ao contrário da matrona Culex que desova toda a ninhada de uma vez só.

Como todo o cuidado é pouco com seus preciosos rebentos, a zelosa mamãe Aedes ainda se dá ao luxo e ao cuidado de envolver cada leva de ovos com um gel protetor que impede a eclosão dos ovos até que o ambiente apresente condições ideais de umidade e temperatura. E essa espera pode se estender por até 450 dias - isso mesmo, um ano e dois meses.

Nossos "espetaculares" avanços na engenharia genética são fichinha se comparados aos 400 milhões de anos de seleção natural que culminaram em armas letais como o Aedes Aegypti.

Mas, se serve de consolo, a seleção natural também joga a nosso favor - não fosse por ela o Brasil não teria chegado aos 200 milhões de habitantes nem a ferro e fogo e o homem teria desaparecido da África já há milhões de anos.

43 anos após o Grito do Ipiranga, registrou-se o primeiro caso da doença em Recife - isso de forma alguma quer dizer que a doença tenha aparecido aqui do nada naquele ano, mas tão somente que sendo ela própria uma sanguessuga, a coroa portuguesa tinha interesses mais relevantes que a saúde pública em mais uma de suas várias colônias. Até porque dizem as más línguas que junto com outras mazelas como a gripe, o sarampo, a lepra, a sífilis e etc e tal, a dengue teria chegado por mãos portuguesas a terras tupiniquins. Não diretamente pelos colonizadores, mas pelos infames porões dos navios negreiros que aportaram aos milhares por toda a costa do Brasil, já que o Aedes Aegypti, como o nome sugere, é um inseto originário da África.

Voltando à seleção natural, cerca de 80% das pessoas picadas pelo mosquito infectado no Brasil são assintomáticas ou manifestam sintomas leves da doença.

Isso leva a crer que centenas de anos de exposição aliada à miscigenação já dotaram 80% da população brasileira de um mecanismo de defesa eficiente no combate à doença. Na África, de onde se originou, a dengue causa pouca ou nenhuma preocupação. Se por um lado a turbulência e corrupção históricas do continente têm retardado a implementação de políticas adequadas de saúde pública e saneamento, a população africana em seu total abandono tem demonstrado um aparato genético de exepcional resistência e capacidade regenerativa.

Em 2008 o Centro Nacional de Investigação Superior da França anunciou a descoberta de um macrófago (grande glóbulo branco) presente na derme humana capaz de capturar o flavivírus (que é o vírus da dengue). O macrófago foi batizado de CD209/DC-SIGN.

É interessante notar que o gene CD209 foi rastreado em 2005, tendo suas origens determinadas na África há cerca de 2 milhões de anos atrás. Enquanto o CD209 (predominantemente em populações africanas e asiáticas) está relacionado à resistência a agentes como Mycobacterium tuberculosis, Helicobacter pylori, Klebsiela poneumonia, HIV-1, virus Ebola, cytomegalovirus, Hepatite C, Dengue, SARS-coronavirus e parasitas como Leishmania pifanoi e o Schistosoma mansoni; seu derivado (ou mutação) CD209L (predominante no genótipo europeu) age mais restritamente sobre HIV, hepatite C, Ebola, e coronavirus, bem como o parasita Schistosoma mansoni.

Enquanto isso, cá estamos. O dia amanheceu, a cidade acordou com seus rugidos e eu continuo aqui divagando sobre a dengue, preocupada conosco, os gaúchos, até então afortunados pelo tênue ou inexistente contato com esse mal e tão orgulhosos de nossas raízes predominantemente européias. Penso que vamos começar a desejar ter tido um pouco mais que só os dedinhos dos pés criados na senzala.

Eu, que tenho o pézinho lá assentadinho na mamãe Africa com muito orgulho e carinho já vou cantando e pedindo a benção:

Saravá Oxalá, Oxalá Meu Pai!
Saravá Ogum, Patakori Ogunhê!
Saravá Xangô, Kaô Kabecile!
Saravá Obaluaie, Atotô Obaluaiê!
Saravá Oxossi, Okê Bamba O’Clima!
Saravá Iemanjá, Odô iá!
Saravá Oxum, Ora iê iê ô!
Saravá Iansã, Eparrei!

5 de fev. de 2010

PERDOAR, JAMAIS

Eu tenho andando muito incomodada com a série "Infiltrados" que a Zero Hora vem publicando, relatando as atividades de delação dos agentes da máquina ditatorial como se não passassem de picardias juvenis. Se não torturou e matou diretamente, essa gente foi responsável pela prisão tortura e desaparecimento de dezenas de cidadãos, muitos dos quais ainda hoje seguem desaparecidos.

Como a menina da foto, EU ME RECUSO A APERTAR A MÃO DOS OPRESSORES.

A reação a isso veio no artigo que reproduzo a seguir:

A última medula dos ossos

por Christopher Goulart*

"Os fins justificam os meios.” Foi a declaração pública de um ex-analista de informações do Dops nas páginas de Zero Hora, ao justificar a tortura, defendendo isso “até a última medula dos ossos”. Ler algo tão revoltante, olhando para a foto de um senhor estampada no jornal, vangloriando-se de seu passado na ditadura militar, ocasiona-me uma profunda reflexão.

Ao que me consta, a sociedade está debatendo punição aos torturadores, revisão da Lei de Anistia, entre tantos pontos polêmicos do Programa Nacional de Direitos Humanos. Alguns contrários, outros favoráveis, tudo dentro de uma normalidade democrática. Mas ainda resta dúvida a respeito de a tortura ser um crime de lesa-humanidade; portanto, crime inafiançável?

A ninguém cabe alegar desconhecimento da convenção da ONU contra a tortura, ratificada pelo Brasil em 18 de dezembro de 1989 ou do artigo 5° da Declaração de Direitos Humanos que diz “ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante”. São regras da civilização. Mesmo assim, somos surpreendidos com apoios públicos incondicionais – “até a última medula dos ossos”, que apontam um retrocesso grotesco para a barbárie superada.

Sugiro ao senhor da foto que leia o artigo de Marcelo Rubens Paiva publicado recentemente em São Paulo, na forma de carta aos militares. Talvez este cidadão reveja seus conceitos. Talvez lembre que o pai do autor desse artigo, esse sim sofreu “até a última medula dos ossos”, torturado e assassinado nos porões da ditadura. A justificativa? Rubens Paiva era relator de uma CPI que investigava dinheiro da CIA para a preparação do golpe. Tornou-se um número a mais dentre os desaparecidos.

Sou, sim, favorável à revisão da Lei de Anistia, mas respeito opiniões contrárias. Também tenho uma história de vida diretamente ligada ao golpe civil-militar que expulsou minha família de meu verdadeiro país e me obrigou a nascer no exílio. Nem por isso ignoro a liberdade de expressar opiniões divergentes sobre um tema tão polêmico. Mas, com todo o respeito: a pregação aberta da tortura é hoje algo inconcebível para uma humanidade em constante estágio evolutivo.

*Presidente da Associação Memorial João Goulart
Zero Hora - 05 de fevereiro de 2010

4 de fev. de 2010

SEM PALAVRAS


É mole ou quer mais?