27 de abr. de 2009

A CULPA NÃO É DO PORCO


No exato momento que escrevo estas linhas, por todo o planeta há milhões de pessoas ingerindo antibióticos. Em muitos casos, a medicação foi devidamente prescrita e as pessoas estão seguindo à risca as indicações médicas quanto à dosagem e horários da medicação. São a minoria. Mais minoria ainda são os que, como eu, desconfiam de médicos que receitem antibióticos indiscriminadamente e vão atrás de uma segunda opinião.

Mas, voltemos aos antibióticos: a verdade - e isso se dá em escala global - é que a maioria das pessoas ou ignora as doses e horários prescritos pelo médico, ou vai além: suprime o médico da equação e toma antibióticos por conta própria.

Pra quem não segue à risca o receituário, uma palavra: se é pra ignorar doses e horários, é melhor nem começar a medicação. Tá bom, você arrisca morrer da doença, mas vai dessa pra melhor com a consciência limpa, pois não terá contribuído para a criação de organismos resistentes à medicação que mais adiante causarão a morte de dezenas, centenas, milhares ou milhões de pessoas.

Não é por nada que se precisa tomar 25 gramas de tal medicação de 6 em seis horas por uma semana, ou 10 gramas de outro de 4 em 4 por 15 dias, e por aí vai... Cada organismo tem suas especificidades (e isso vale tanto do lado do doente como do agente da doença). Como no álcool, os efeitos do antibiótico têm um ciclo em nosso organismo, atingindo o pico e decaindo depois - esse tempo varia dependendo da medicação e da dosagem aplicada. Por isso são precisas várias doses por um determinado período. Armar e resolver essa equação na forma de uma receita eficaz é atributo dos médicos - é pra isso que passam estudando e participando de seminários e cursos de atualização pela vida a fora -, não dos farmacêuticos - por mais que conheçam a química envolvida nos medicamentos.

Se você já experimentou combater cupins ou baratas em casa, aprendeu que eles não desaparecem por completo já na primeira carga de veneno. A primeira carga dá conta de uma boa parte dos insetos, mas sempre há os que sobrevivem à exposição àquela dose de veneno. Enfraquecidos, mas sobrevivem. É preciso persistir na luta e garantir que esses insetos sejam eliminados - se sobreviverem, estarão passando adiante o gene que lhes permitiu sobreviver à dose inicial. Isso você pode vir a descobrir meses depois, quando se deparar com outra infestação para a qual o veneno que combateu a primeira se mostrará ineficaz.

Antibióticos são uma forma de veneno: anti=contra + biotos=meios de vida. E como venenos, não são "inteligentes". Só quem acredita nos "poderes" do Vanish tem a ilusão de que antibióticos atacam somente os microrganismos invasores. Balela: uma dose de antibióticos e sua flora intestinal já começa a capengar. Duas, três e é bom você começar a tomar lactobacilos, porque a digestão vai pras cucuias e você começa a cultivar uma gastrite das boas. Isso sem nem entrar na questão do nosso sistema imunológico ou dos inúmeros microrganismos benignos que ajudam a nos manter saudáveis - eu precisaria escrever um compêndio que você não teria mesmo paciência de ler.

Além disso, somos diariamente bombardeados por cargas de antibióticos. Eles estão bem aí, na sua mesa, no peitinho de frango grelhado que você saboreia junto com a salada acreditando estar ingerindo uma dieta saudável. Saiba que esse inocente franguinho é um coquetel químico dos diabos, repleto de esteróides e, sim, antibióticos. Ou como pensa que os aviários conseguem manter 10 frangos por metro quadrado e fazer com que completem em 40 dias um ciclo de crescimento que leva o dobro pra uma galinha normal?

Começou a coçar atrás da orelha por causa daquele "coquetel anti-gripe" que tomou semana passada? É bom mesmo ir se preocupando.

Se se inclui na segunda categoria (das que citei bem no começo deste post; a que sequer procura o médico e vai se automedicando pela vida a fora), está brincando de roleta russa não só com a sua, mas com a saúde de todos nós. É uma completa irresponsabilidade. Imperdoável e de uma ignorância redundante.

Você está construindo uma bomba biológica, usando seu próprio corpo como tubo de ensaio.

É a mesma coisa que encher a cara, pegar o carro e sair por aí a mil. E não me interessa se seus impostos estão todos em dia, se votou nas últimas eleições e até se está envolvido em alguma meritória ação de voluntariado: você está prestando um desserviço à humanidade que deve (e pode) ser imediatamente corrigido.

Bateu uma gripe? Nada de bezetacil, nada de correr até a farmácia e tomar por conta própria um daqueles "coquetéis anti-gripe" pra não faltar ao trabalho. Procure um médico ou posto de saúde, e nesse meio-tempo, cuide de lavar sempre as mãos e usar um lenço descartável quando tossir e espirrar - e não jogue nunca este lenço no lixo seco. Aliás, o simples hábito de lavar as mãos sempre que chegar em casa já ajuda bastante na prevenção.

E tem como se prevenir. Antes que a coisa assuma proporções apocalípticas, tem como se prevenir com medidas muito simples e que em pleno 3º Milênio já deviam fazer parte de nossos hábitos cotidianos.

Algumas dicas:

Chegando ao trabalho, despois de descer do ônibus ou metrô, lave as mãos antes de cumprimentar qualquer pessoa. Igualmente, lave as mãos ao chegar do supermercado. Por quê? Você iria cair duro com a quantidade de bactérias e microrganismos que se proliferam nas barras de suporte dos transportes coletivos e nos carrinhos de supermercado.

Deu aquela coceira no olho bem no meio da rua? Aguente firme. Não coçe em hipótese alguma. Aliás, mesmo estando em casa nunca leve as mãos aos olhos e à boca sem antes tê-las lavado com bastante água e sabão.

Dor de garganta? Experimente o mel, ou o própolis (este sim, um "antibiótico" natural). Se não resolver, procure o médico.

Está com febre, dor de cabeça e no corpo? Que se dane o chefe ou aquela "reunião importante": fique em casa e preste atenção ao que seu corpo está tentando dizer. A febre não está cedendo? Procure um médico ou posto de saúde imediatamente. Não tenha medo de parecer hipocondríaco - até porque você não estará sendo um, porque hipocondríacos costumam apelar primeiro para as farmácias.

Vivemos 90% de nosso tempo em ambientes fechados, compartilhando o ar com outras pessoas. Somos solidariamente responsáveis pela saúde de todos.

Os super-vírus que andam pipocando por aí não vieram do nada: são fruto (como sempre) da maneira irresponsável com que lidamos com a biotecnologia. São consequência direta por um lado, do uso de antibióticos na criação intensiva de aves e suínos para abastecer o crescente consumo mundial; e por outro do uso abusivo de antibióticos entre humanos.

26 de abr. de 2009

PIOR A EMENDA QUE O SONETO



A tropa de choque dos politicamente-corretos ataca novamente com a sutileza e inteligência que caracteriza os defensores da seita.

Desta vez a vítima foi M. Hulot - o prosaico personagem de Jacques Tati, cuja marca registrada são o chapéu cinza, a capa de chuva bege e o charuto.

A companhia de metrô de Paris resolveu usar o personagem em uma campanha publicitária. Até aí, tudo bem, mas logo os criativos se depararam com a potencial polêmica do charuto - pecado capital em tempos de caça aos fumantes.

Como criativos que são, vieram com a "criativa" solução acima (pra quem não reparou: substituíram o charuto por um catavento amarelo... AAARGH!).

Como sábia e, porque não dizer, sarcasticamente, apontou o diário La Liberacion, se a questão é ser politicamente-correto, faltou corrigir outros "pecados": M. Hulot está dirigindo uma bicicleta motirizada de um modelo antigo e poluente, não está usando equipamentos de proteção, e transportando inapropriadamente uma "criança" na carona.

Fico com as palavras da Ministra da Saúde da França, Roselyne Bachelot: "Estamos nos tornando bastante ridículos com essa coisa."

25 de abr. de 2009

"TUIM"


Assim é descrito o estalo orgástico decorrente do primeiro contato com o crack. Em 15 segundos a dopamina invade o cérebro e todo o metabolismo do indivíduo reage se acendendo como uma árvore de natal. Com o pulso a mil e a pressão arterial no limite o indivíduo experimenta aceleração nos processos mentais e um incremento em sua força física atingíveis apenas após anos de disciplina e dedicação. Dor, fome, cansaço e, porque não dizer, empatia, afeto e qualquer vínculo emocional dão lugar ao instinto em sua forma mais primitiva. Dependendo da química de cada um, à euforia podem seguir-se a inquietação, a ansiedade, a irritabilidade, a paranóia e a agressividade.

O "barato" dura até 15 minutos, que é o tempo médio que nosso organismo leva pra reagir à overdose de dopamina, bloqueando os receptores e destruindo parte desse neurotransmissor.

É por isso que o "tuim" só acontece da primeira vez - da segunda, nosso organismo já não conta com a mesma vulnerabilidade a seus efeitos: inúmeros receptores já foram destruídos e o nivel de produção natural de dopamina se reduziu. Assim mesmo, já da primeira vez, tamanho é o impacto dessa droga no organismo humano.

E é por isso também que a partir daí a coisa vai de mal a pior, pois quanto mais o indivíduo recorre ao crack, mais receptores são destruídos e menos dopamina é produzida espontaneamente em seu metabolismo.

Sem a dopamina e seus receptores, o indivíduo se torna incapaz de derivar o menor prazer das coisas cotidianas com as quais nos satisfazemos - passear o cachorro, jogar bola com os amigos, namorar, contar uma piada, apreciar o pôr-do-sol e tantas outras coisas "pequenas" -, e que nos fazem respirar fundo e concluir que com todos os seus problemas e imperfeições, a vida vale a pena.

Vida de viciado não vale a pena sem a droga.

Se, em geral, o maior dano que viciados em heroína, cocaína, LSD representam para outros a seu redor é o dano emocional, a presença de um viciado em crack representa potencial risco à integridade física de outras pessoas, sejam elas relacionadas e ele ou não.

O risco pode tanto decorrer da "fissura" por conseguir mais droga, como da agressividade experimentada sob seu efeito.

Nenhuma outra droga faz tanta juz a seu nome como o crack, que em inglês significa rachadura, fissura.

Enquanto se disseminava pelas ruas e favelas, o crack era cinicamente encarado pela classe média como uma intervenção divina para depurar os lixões e favelas de seus "piores elementos". Ao ler nos jornais notícias de pais e mães acorrentando os filhos dentro de casa, alguns reagiam com assombro, mas a maioria levantava os olhos do jornal agradecendo aos céus pela distância social entre seus apartamentos e as favelas - em seu míope entendimento, per se uma barreira eficaz contra a disrupção do crack.

Há anos o crack chegou às famílias de classe média, e agora começamos a testemunhar seus efeitos devastadores. De uma hora pra outra, o crack deixou de ser caso de policia e foi alçado à categoria de "problema social".

O que é preciso que fique bem claro é que o problema social é, e sempre será, anterior ao crack. O dano está necessariamente feito já antes da droga se instalar. O dano é o que leva à droga: pais ausentes e culpados, compensando a ausência física e emocional da vida dos filhos com excesso de recompensas materiais e condescendência para com os desvios típicos de um indivíduo em processo de aprendizado social são o caldo de cultura ideal para a propagação da droga.

Quanto mais fraca e vulnerável a base afetiva e emocional de um indivíduo, mais avassaladores serão os efeitos do crack sobre essa pessoa e, exponencialmente, o impacto que suas ações irá causar na sociedade; que pode ir desde sujeitar a família a um martírio insuportável, até uma escalada de violência com crescentes requintes de crueldade.

Muito raramente, o crack é a primeira droga. Sua antecessora é via de regra a cocaína, um vício caro e mais afeito à zona sul do que às favelas. Normalmente a transição para o crack se dá ou para sentir um "barato" mais intenso ou na ilusão de se fazer economia com o vício.

Se entrar no crack é barbada, sair dele é um processo lento, penoso e com uma taxa ínfima de sucesso.

Na falta de uma droga específica para combater seus efeitos, a terapia comportamental tem sido a fórmula mais comumente empregada nas tentativas de recuperação. Entre as várias técnicas empregadas, destacam-se a autocontenção e a terapia cognitiva comportamental. Tais tratamentos demandam tempo, dinheiro e disposição pra encarar de frente o "cold turkey" da abstinência.

Ainda assim, mesmo depois de exorcizado, o crack continua cobrando um preço alto por conta do desequilíbrio residual que causa na assimilação da dopamina: aos (poucos) que conseguem livrar-se do vício, resta a dependência diária dos antidepressivos e a baixíssima auto-estima alimentada por uma sensação geral de fracasso, de incapacidade e vergonha.

A única "cura" para o crack é jamais sequer experimentar.

23 de abr. de 2009

MAIS UMA DA PIXAR


Mais uma vez a Pixar ousa na temática. Depois de deixar wall-street e a turma das franquias e merchandising de cabelos em pé com a idéia do rato-cozinheiro Ratatouille e do robô-lixeiro Wall-E, chega a vez de Carl Fredricksen, um velhinho meio rabugento que aos 78 anos decide se aventurar por aí amarrando a casa a centenas de balões.

Afinal, que criança nesses dias de Rebelde e Hannah Montanah vai querer andar por aí com uma mochila estampando a carranca do vovô Carl, do escoteiro gordinho ou dum cachorro que fala pela coleira?

A Pixar ri e aposta: um monte de gente.

Eu também.

ALGO PRA PENSAR ANTES DE ENTREGAR A ALMA AO DIABO


Percy Schmeiser foi prefeito da cidadezinha canadense de Bruno Sask de 1966 a 1983, e membro da Assembléia Legislativa de 1967 a 71.

Como vários outros agricultores em sua região, Schmeiser plantava canola há mais de 40 anos e estocava suas próprias sementes, desenvolvia suas próprias variedades e se sustentava plantando principalmente canola. Como vários outros agricultores de sua região, usava um certo herbicida (Roundup) desenvolvido e comercializado pela Monsanto.

E tudo ia bem, até a Monsanto desenvolver uma semente de canola completamente imune ao Roundup; a Roundup Ready. Claro, isso foi para o bem do agricultor, pois assim ele nunca mais arriscaria perder uma muda sequer pela fumigação.

Aqui faz-se necessário abrir aspas e explicar que para o bem da Monsanto, ela comercializa as sementes de uma canola geneticamente modificada para resistir ao seu próprio herbicida; mas retém os direitos sobre o DNA. Isso força os agricultores todo ano comprar novas sementes para o plantio, ao invés de simplesmente estocar da safra anterior. Agricultores que compram sementes geneticamente modificadas da Monsanto assinam um documento pelo qual além de se comprometerem a comprar sementes todo o ano, permitem que a Monsanto inspecione seus campos. Fecha aspas.

Sem nunca ter comprado uma única semente de Roundup Ready, em 1999 Schmeiser aos 68 anos de idade se viu no banco dos réus, acusado de plantio ilegal e, pior, de estocar sementes não licenciadas para o plantio. A Monsanto demandava o pagamento de exorbitantes 400 mil dólares por conta da infração de patente, taxas de tecnologia, um percentual sobre a safra (15 dólares por acre) e mais alguns milhares de dólares por danos morais.

Como?

320 hectares de sua plantação haviam sido polinizados pela canola Roundup Ready da Monsanto.

Controlar a contaminação por sementes é um negócio bem complicado, particularmente em época de colheita, porque elas são carregadas pelo vento e se alojam nas ranhuras dos pneus de veículos e tratores. Um exemplo conhecido é o capim annoni, uma espécie alienígena que chegou acidentalmente aos pampas na década de 50. Como ficava verde o ano inteiro, alguns pecuaristas apressados chegaram mesmo a importar e plantar sementes. Só depois foram descobrir que o capim annoni é indigesto para o gado por ser fibroso demais. Pior, por não ser nativo, o capim annoni não tem inimigos naturais e a despeito de todas as tentativas de erradicação, a área tomada pela praga vem se expandindo (já atinge mais de 20% das pastagens no Rio Grande do Sul), representando um prejuízo acumulado de dezenas de milhões de Reais.

Mas, voltando a Schmeister, ao contrário de inúmeros agricultores norte-americanos (alguns chegaram a pagar milhões), o canadense se recusou a entrar em acordo com a gigante multinacional.

E contra-atacou não só argumentando que o plantio de 1997 havia se dado com sementes próprias estocadas da safra de 96 como acusando a Monsanto de negligência por introduzir a canola modificada na região sem o devido controle e com isso causar contaminação nas lavouras dele.

E ainda foi além: exigiu na justiça uma indenização de 10 milhões de dólares, acusando a companhia de difamação, invasão e contaminação de sua lavoura com a Roundup Ready.

O caso foi parar na Suprema Corte, com a Monsanto insistindo em contra-argumentar que a contaminação era um fator irrelevante no caso, que o fato estava consumado e ele havia colhido a canola e lucrado com isso sem pagar à Monsanto os royalties a que tinha direito.

No melhor estilo salomônico, em 2001 a Suprema Corte canadense deu à Monsanto ganho de causa no que tange à patente enquanto ao mesmo tempo acatava a tese da contaminação.

Ao decidir contrariamente à regra pela qual sementes que chegam acidentalmente à propriedade de um agricultor passam a ser de sua propriedade, estabelecendo que tal não se aplica às sementes patenteadas; a Suprema Corte abriu um precedente que possibilitava ações de indenização por parte de agricultores prejudicados pela contaminação acidental por sementes transgênicas.

Em 2005, a Roundup Ready voltou a aparecer nos campos de Schmeister.

Em 2006 a esposa de Schmeister processou a Monsanto pela contaminação de Roundup Ready em sua horta orgânica.

Naquele mesmo ano, Schmeister viu os pés de canola Roundup Ready se multiplicarem em sua plantação de mostarda. Para "limpar" suas terras da praga, a Monsanto exigiu que assinasse um documento no qual comprometia a si e seus herdeiros a jamais processar a Monsanto em quaisquer bases.

Em 2007 o Escritório de Patentes dos Estados Unidos revogou quatro patentes retidas pela Monsanto, incluindo parte dos direitos sobre a Roundup Ready - sementes geneticamente modificadas podem envolver até 80 patentes diferentes.

Em 2008 a Monsanto concordou em custear a descontaminação da Roundup Ready na lavoura de Schmeister sem exigir em contrapartida que nem Schmeister nem seus herdeiros voltem a processar a companhia.

E há quem defenda com unhas e dentes a introdução dessas pragas por aqui.

22 de abr. de 2009

SUSAN BOYLE



Que Susan Boyle desbanca 9 entre 10 "cantoras" que nos torturam os ouvidos por aí, não há sombra de dúvida. Ela é dotada de uma voz quente, de timbre agradável - ao contrário do estilo Betty-Boop que se prolifera travestido de Britney Spears -, e mostra um razoável domínio da técnica vocal - o que não se pode dizer de Madonna, por exemplo, que só foi aprender técnica vocal quando já contava o terceiro ou quarto disco de ouro.

Antes de mais nada, é preciso esclarecer que Susan não apareceu assim do nada: sua voz é conhecida dos habitantes de sua região, onde costuma aparecer em pubs e bares, cantando onde quer que se apresente uma oportunidade. E olhe que estamos falando da Inglaterra, um país com tradição vocal; a terra dos bardos.

Mais: anos trás, embalada pela receptividade em sua região, Susan bancou uma demo que foi enviada a várias gravadoras. Não preciso dizer que foi simplesmente ignorada, pois fosse outro o caso, outra seria a história e ela não teria precisado se sujeitar aos duvidosos critérios do freak-show televisivo que a revelou.

Um "amigo" de Susan encaminhou a demo ao Telegraph, de cujo site reproduzo a montagem acima.

Posso estar errada, mas não creio que Susan Boyle sobreviva à polêmica supérflua sobre sua aparência tempo suficiente pra nos brindar com alguma pérola.

Por enquanto ela promete, mas ainda carece da personalidade e profundidade emocional que lapidam a verdadeira diva.

Em outras palavras: não precisa muito pra já passar a anos-luz das Britneys, Madonnas e Beyoncées que pervertem nossos ouvidos, mas pra chegar a Billie Holliday ainda tem algumas milhas pela frente.

21 de abr. de 2009

PRA NÃO DIZER QUE NUNCA DEI UMA RECEITA


Pra quem como eu faz qualquer coisa pelo pão australiano do Outback, aí vai a receita que encontrei na internet, testada e aprovada pelo pessoal aqui de casa.

Ingredientes:

1 1/2 xícara de água morna
2 colheres de sopa de manteiga batida
1/2 xícara de mel
2 xícaras de farinha de trigo
1 colher de sopa de chocolate em pó
1 colher de sopa de açúcar
2 colheres de chá de café solúvel
1 colher de chá de sal
2 1/4 colheres de chá de fermento

Adicionais:

1 colher de sopa de corante caramelo (pra dar cor)
3 colheres de sopa de farinha de milho (pra polvilhar)

Procedimento:

Bata todos os ingredientes (de preferência no processador, mas se não tiver, vai na mão mesmo) até obter uma massa lisa um tanto úmida e grudenta - se parecer molhada e molenga demais, acrescente farinha até pegar o ponto.

Deixe crescer por 1 hora.

Amasse bem e divida em oito partes - recomenda-se enfarinhar as mãos pra manipular a massa.

Modele cada porção em charutos com algo entre 15 e 20cm de comprimento por uns 5-8 de largura e vá acomodando os charutos numa assadeira.

Obs.: caso queira pães maiores, faça como eu e divida a massa em quatro.

Depois de moldados todos os charutos, polvilhe com a farinha de milho.

Cubra e deixe crescer por mais uma hora.

Asse em forno pré-aquecido a +/- 350º por 20 a 25 minutos. Se tiver forninho elétrico, ainda melhor.

Sirva quentes com a manteiga batida.

20 de abr. de 2009

ENQUANTO ISSO, PELO MUNDO...


Ministros do jurássico G8 reunidos na Itália admitem que o muundo está muito longe de atingir as Metas do Milênio para a Desnutrição.

O número de famintos no planeta continua na marca de 1 bilhão de pessoas.

O problema seria instantaneamente resolvido se instituições financeiras e grandes multinacionais produtoras de sementes e pesticidas destinassem 0,1% de seus estrondosos lucros às iniciativas da FAO, mas isso também seria subversivo, não?

PAGANDO A CONTA DA CRISE


Enquanto a crise segue na degola pelo mundo a fora, liquidez continua sendo um problema e ainda há quem pressione os governos pra liberar mais dinheiro (nosso, não vamos esquecer) pra "socorrer" o mercado financeiro, o Bank of America apresenta seu balancete do primeiro trimestre de 2009: US$ 4.2 bilhões de lucro líquido (e certo).

Outros bancos:

J.P. Morgan - US$ 2.14 bilhões
Goldman Sachs - US$ 1.6 bilhões
Citigroup - US$ 1,59 bilhões

O mínimo que os cidadãos aí podiam fazer é socializar os lucros na mesma proporção que suas perdas foram socializadas.

Mas isso seria subversão, não é mesmo?

19 de abr. de 2009

ARQUITETURA ALCOÓLICA


Não você não está bêbado (ainda) é exatamente como está escrito acima.

Lançando moda como sempre, os ingleses inventaram o primeiro "walk in cocktail". É assim: você vai no site ticketweb, compra um ingresso no valor de 5 libras e é agendado para uma visita ao pub Alcoholic Arquitecture em Londres em uma data específica - isso é necessário porque o bar só acomoda 40 pessoas de cada vez. O site inclusive avisa que atrasos superiores a 15 minutos não serão tolerados e o valor pago pelo(s) ingresso(s) não será devolvido. Acrescentando ainda que os clientes deverão ter idade igual ou superior a 21 anos e que deverão confirmar isso à entrada com documento válido.

Respeitadas as regras, você ingressará literalmente no interior de um cocktail - a decoração com limas e canudos gigantes se encarrega do visual; enquanto o sistema de ventilação inunda seus sentidos com inebriantes vapores de gim com tônica.

40 minutos neste ambiente são suficientes pra você sair dali se sentindo levemente "alegre". Mas não vá se empolgando: o tempo máximo de permanência é de uma hora.

Pra que ninguém saia cheirando a pudim de cachaça, a casa oferece macacões plásticos para proteger as roupas.

Os idealizadores são Sam Bompass e Harry Parr, sócios na Bompas & Parr, tradicional indústria de gelatinas. "É algo que sempre quizemos fazer. Nosso negócio é fazer comida em escala épica, e este é um cocktail épico."

COMO SEMPRE, NA ÍNDIA...



Como sempre, depois do pequeno Buddah, que desapareceu depois de mais de 30 dias meditando ao pé de uma árvore sem se alimentar, do menino-diabo com dentes no céu da boca, a Índia volta a nos brindar com uma aberração.

Desta vez o nome é Jerly Lyngdoh. O "garotinho" aí em cima, todo sorridente e que aos 26 anos de idade ainda mantém o corpinho de uma criança de dois anos. Dizem que a única coisa que ele tem de adulto são os dentes - mas como na Índia dente saltando pra fora da boca não é de assustar ninguém, deve passar perfeitamente desapercebido.

Não consigo deixar de suspeitar que a frequência com que tais aberrações aparecem deve ter alguma relação com a fato de a Índia, com essa massa de gente que ainda não saiu da idade da pedra ser ao mesmo tempo uma potência atômica.

Ou talvez mera consequência do vegetarianismo passado de geração para geração.

18 de abr. de 2009

A ESTRADA DA VIDA



Escrevia a uma grande amiga hoje pela manhã, e depois de discorrer sobre minha vida veio uma analogia que gostaria de compartilhar aqui, na esperança que seja útil a alguém mais.

Não acredito exatamente em Deus ou qualquer dessas fantasias que a gente usa como muletas pra continuar existindo, mas na vida em si. Mais do que nunca estou convencida que a vida é uma viagem fantástica, e que tudo que a gente precisa fazer é sentar no volante e relaxar, apreciando a paisagem enquanto decide tomar esta ou aquela estrada lateral.

Como todo mundo, ao me ver finalmente livre da monotonia do banco traseiro do carro de meus pais, embarquei numa ferrari e pisei fundo. Mais do que tudo, queria chegar lá - onde quer que fosse; de preferência, na frente de todo mundo. Porque é assim mesmo quando se é jovem: a gente nunca pensa que a via expressa onde ingresamos é só o caminho mais curto para o fim. A gente não vê isso, porque estamos o tempo todo com um olho na estrada e outro no retrovisor, pra evitar que alguém nos ultrapasse. Ignoramos as placas de sinalização e os primeiros desvios laterais. Fazemos manobras perigosas, fechamos outros motoristas e corremos riscos impensáveis, acenando e buzinando nossas "conquistas" para nossos pais e alguns amigos a quem avistamos vez por outra seguindo em marcha lenta por uma estradinha viscinal, ou (mais no caso dos amigos) disputando rachas por aí. Vez por outra, alguém abre a janela e grita alguma coisa com os olhos arregalados, mas não escutamos, porque o som de 100W está a toda, tocando System of a Down.

Pra maioria de nós, meros mortais, tal correria invariavelmente acaba em acidente. Ou batemos de frente em alguém, ou simplesmente perdemos o controle na saída de uma curva e...

SQUIIIIIIIICHHHHHHH.... CATABUM! CRICS! CROCS! CRÁS!

Estonteados, nos arrastamos pra fora das ferragens e olhamos atônitos o estado miserável daquele nosso carrinho tão bonitinho e no qual havíamos investido anos de fantasias e expectativas. Nos encolhemos e choramos: é o fim!

Muita gente já fica ali mesmo, chorando o primeiro carrinho destruído e invejando os carros que passam como bólidos até se esvair. Alguns já piram ali mesmo, e seguem a pé, com medo de voltar a dirigir. Com o tempo, acabam como andarilhos esfarrapados mendigando à beira da estrada.

No entanto, se tivemos a sorte de nossos pais ou amigos estarem atentos, logo estarão parando no acostamento e nos dando uma caroninha até a próxima concessionária. Humilhados, nos resignamos a ocupar o banco traseiro do carro de alguém, nos sujeitando ainda de quebra aos conselhos, lições de moral e a todos os "eu te disse" a que fizemos juz. A certa altura eles retomam o assunto que vinham discutindo antes de nos socorrer, e entediados com a paisagem começamos a devanear sobre o próximo carrinho, imaginando o modelo, a cor e os acessórios com que vamos nos equipar. Eventualmente, nos deparamos com uma concessionária.

Aí vem o segundo desafio: agradecemos a carona e nos aventuramos outra vez? Muita gente desiste já a meio caminho entre o carro espatifado e a concessionária, particularmente se está no carro do papai: o banco traseiro é um velho conhecido, papai dirige sem sobressaltos e mamãe garante que nunca falte nada pro nosso conforto... ficar pra sempre ali é muito tentador.

Com maior ou menor relutância, dependendo da natureza de cada um; acabamos descendo do carro, agradecendo a carona e tratando de escolher um novo modelo. Dependendo da natureza de cada um, até pedimos que nossos pais ou amigos ajudem na escolha.

Finalmente, com maior ou menor hesitação, escolhemos o modelo e sentamos atrás do volante.

Partimos com cautela (até usamos o pisca!), e aos poucos vamos vencendo o medo e reconquistando a confiança em nossa direção. Nossos pais ou amigos seguem atentos, mas à medida que vamos ficando mais e mais confiantes, vamos nos afastando.

Alguns de nós já aprenderam a lição, e seguem em velocidade de cruzeiro reparando na paisagem, obedecendo às placas e se aventurando por vias laterais sem outro propósito que explorar e, com sorte, ir dar numa paisagem paradisíaca e mergulhar nas águas cristalinas de alguma cachoeira.

Às vezes a estrada acaba num atoleiro ou num deserto sem fim. Aí acontece de tudo: há quem fique atolado, acelerando e se atolando cada vez mais, há quem desça e desista. duvidando de sua capacidade de discernimento, e fique ali sozinho no meio do nada se recriminando até se esvair; e há ainda quem trate o assunto com pragmatismo: desatolar, dar marcha-à-ré e retomar o curso da sua vida.

Mas, voltando ao fio da meada, há os que (como eu) não cogitaram deixar a via expressa, voltando a acelerar e querendo passar todo mundo pra chegar logo ao fim, ignorando outra vez as placas de sinalização e os acenos urgentes de seus pais e amigos. Como era de se esperar...

SQUIIIIIIIICHHHHHHH.... CATABUM! CRICS! CROCS! CRÁS!

Lá vamos nós outra vez! Poucas coisas dóem mais que a reincidência. E o pior é que tínhamos investido tanto naquele carrinho! Tínhamos escolhido cuidadosamente o modelo, a cor, os acessórios, e até havíamos cuidado da segurança equipando com airbag e freios ABS!

Outra vez nos defrontamos com as opções: pegar carona, seguir a pé ou ficar ali chorando o leite derramado. Nossos pais e amigos se mostram relutantes: "Mas... De novo?! O que foi que eu falei?!", exclamam desacelerando mas sem parar. Do acostamento, roxos de vergonha e humilhação, gritamos que estamos bem, que está tudo sob contrle - melhor ficar sozinho que passar outra vez por todas aquelas admoestações. E eles seguem em frente. Eventualmente, um estranho pára e pergunta nos oferece uma carona.

É o terceiro desafio.

Embarcamos felizes a princípio. Ajeitamos o cinto de segurança e sorrimos fazendo juras de amor e gratidão eternas ao nosso salvador; e o carro arranca (às vezes o solavanco já vem aí, mas condescendemos, aliviados demais pra sequer dar sinal que aquilo nos incomodou). Com sorte, a pessoa que nos deu carona começa a nos consultar sobre o caminho depois de alguns quilômetros, nos dando o posto de navegador até sugerir, a certa altura, que nos alternemos no volante, e num consenso quanto ao rumo e à velocidade, seguimos viagem em harmonia até o fim da estrada.

Mas essa não é a regra. A disposição do outro em nos passar o volante depende do quanto investiu naquele carro. Afinal, quem é que não sente um arrepio na espinha ao ver outra pessoa arranhar as marchas no carrinho em que investiu anos, talvez décadas de fantasias e expectativas? A pessoa que nos acolheu ainda traz bem nítida a lembrança da lataria espinafrada do nosso carrinho na beira da estrada.

Dependendo do outro motorista e da nossa natureza, a viagem segue na boa por alguns ou muitos quilômetros; mas invariavelmente, a certa altura começamos a nos sentir incomodados ou com a maneira como o outro dirige, ou com os caminhos por que nos arrasta sem consultar, e começam as discussões.

Chegamos ao quarto desafio: seguir no banco do passageiro de alguém botando nessa pessoa toda a responsabilidade (e culpa) por nosso destino ou se despedir ali, agradecer a carona e seguir sozinho a pé até a concessionária mais próxima?

Numa situação ideal, se estabelece uma trégua até encontrar uma concessionária onde podemos adquirir nosso próximo carro e seguir viagem depois de nos depedirmos amistosamente.

Mas entre meros humanos há três opções:

1 - seguimos calados e cheios de ressentimentos, nos envenenando por dentro até ou saltar do carro em movimento e nos estropiar todos no asfalto, ou simplesmente murchar em depressão;

2 - maldosamente tratamos de garantir que a viagem seja um inferno pro outro também;

Ou,

3 - Tentamos tomar o volante à força, e dá-lhe soco e ponta-pé até...

SQUIIIIIIIICHHHHHHH.... CATABUM! CRICS! CROCS! CRÁS!

Lá jaz outro carrinho desmilinguido numa vala ou abraçado num poste.

E cá estamos nós outra vez lambendo feridas no acostamento, enquanto os outros passam velozes e sorridentes em seus modelos de luxo. Voltamos à estaca zero.

Chegamos ao quinto desafio.

A essa altura, o ideal seria tirar os olhos dos destroços, contemplar a beleza da paisagem ao nosso redor e nos conscientizar que não é o carro, não é a estrada, mas a viagem em si que realmente importa.

Se a pessoa que está logo ali tão quebrada e estropiada como nós acordar pra essa verdade, a chance é que ainda poderemos nos dar as mãos e seguir juntos até a próxima concessionária, aproveitando a caminhada pra resgatar algumas coisas na relação e juntos traçarmos planos pro nosso próximo carrinho e sobre como vamos prosseguir viagem.

Muitas vezes não acontece assim, e precisamos seguir sozinhos.

O sexto desafio é não repetir o mesmo erro, saltando precipitadamente no primeiro carro que páre oferecendo carona pra só ir conhecer o motorista quilômetros depois; ou simplesmente nos deixando ficar à beira da estrada indefinidamente. O ideal é chegarmos por nossas próprias pernas até a concessionária, escolhermos nosso próprio veículo e seguirmos viagem apreciando a paisagem, abertos à possibilidade de outro motorista nos fazer companhia pelo quanto dure o respeito e apreciação mútuos.

Sigo a vida na minha fusqueta, sem acelerar muito e literalmente devorando a paisagem ao meu redor. Meu amor segue no carrinho dele. Às vezes um pouco adiante, às vezes um pouco atrás.

Por ora, seguimos na mesma estrada, compartilhando nossas impressões da viagem. Quando um vira, o outro segue pra experimentar e até agora não temos muito que reclamar um do outro - sempre tem aquele buraquinho que o outro podia ter avisado, ou aquela reta onde acelerou demais quase sumindo na distância, ou mesmo aquele desvio que tomou e foi parar lá em cima do morro, numa estrada paralela quase saindo de vista; mas isso faz parte da viagem: seria monótono seguirmos sempre lado a lado, na mesma marcha, abanando um para o outro e esquecidos de olhar ao redor.

Um dia esta estrada chega ao fim. Quando esse dia chegar, vou desligar o motor, descer da minha fusqueta e fazer um bom alongamento... Ufa! Que viagem!

17 de abr. de 2009

VOVÓ DA PESADA


Só o ladrão na achou graça dessa:

Na falta de outra arma, a vovó de 86 anos aí em cima mandou ver com a bengala canadense mesmo. Derrubou um ladrão de 26 anos que invadira sua cozinha com quatro poderosas bengaladas e foi avisando: "não se mova ou vai sentir minha muleta nas suas costas de novo!"

Gwineth (este é o nome da octagenária), que ainda se recuperava de fraturas em duas costelas e nos quadris além de uma pneumonia dupla, atribuiu sua presença de espírito à criação em uma família com seis irmãos. "Por que as mulheres devem ser olhadas de cima?", protesta acrescentando em seguida: "fui criada entre homens e posso me defender sozinha."

Mais uma pro time da bengalada. (Se não sabe do que estou falando, leia o post Bengalada, que escrevi meses atrás.)

MIJÃO


Não, não é sobre o pug aí em cima.

Jerome Kenneth Kingzio pegou três semanas de xilindró em Honululu por arruinar o clima de férias de uma senhora, causando-lhe sofrimento emocional.

Durante a projeção do filme Cantando na Chuva, num vôo da Continental Airlines de Los Angeles a Honolulu, visivelmente bêbado o safado levantou, abriu a bragueta e deu um banho de xixi na pobre senhora de 68 anos que sentava ao seu lado.

O que é que essa gente tem na cabeça?

O FIM


As Ilhas Maldivas estão sendo engolidas pelo mar. A coisa é séria. Tão séria que o país já criou um fundo para a compra de terras em estados vizinhos para ir aos poucos movendo sua população, o que vem fazendo muito jurista coçar a cabeça pelo mundo a fora - particularmente na Índia, Sri Lanka e Chagos, seus vizinhos imediatos.

Pra quem não sabe, a República das Maldivas é constituída por um arquipélago de 26 atóis e 1.200 ilhas. Rodeada de colônias de corais, é um dos destinos turísticos mais cobiçados do planeta - são cerca de 600 mil turistas por ano. 80% de sua área fica a apenas 1 metro acima do nivel do mar. 96% de suas ilhotas têm uma área inferior a 1 Km quadrado. Em outras palavras, 47% das áreas habitadas situam-se a menos de 100 metros da costa.

Há vinte anos o arquipélago vem sendo afetado por desastres naturais. Em 1987, um maremoto inindou boa parte de Malé. Em 1998, o El Niño matou 90% dos corais situados a menos de 15 metros de profundidade. E em 2004 o tsunami devastou duas ilhas e forçou a evacuação de outras seis, deixando quatro mil desabrigados (isso numa população de 280 mil é bastante coisa).

"Não temos para onde ir: em caso de crise, nosso único recurso é subir nos coqueiros", ironiza Ahmed Abdullah Saeed, redator-chefe do grupo de imprensa Haveeru.

"O problema do aquecimento climático não é tanto a elevação das águas, mas sim a morte dos corais", diz Thomas Leber, especialista de uma agência de estudos ambientais. Isso porque a acidificação dos oceanos provocada pelas emissões de gás causadores do efeito estufa é fatal para esses organismos, já fragilizados por certas práticas de pesca, como a captura em massa de garoupa, espécie que exerce um papel fundamental no equilíbrio do recife de corais. Shiham Adam, o diretor do Centro de Pesquisas Marinhas, lembra o óbvio: "Se não houver mais corais, não haverá mais ilhas".

É uma sinuca. Por um lado, os empreendimentos turísticos tentam se manter à superfície (literalmente) construindo píers de concreto. Por outro, essas mesmas iniciativas têm abalado ainda mais o frágil ecossistema dos corais que tornam possível a própria existência das ilhas, contribuindo pra piorar ainda mais as coisas.

Não parece ter saída. O arquipélago, verdadeiro paraíso na terra, encara com angústia seu futuro apocalíptico.

Enquanto isso, os cruisers luxuosos continuam aportando cheios de turistas ávidos por passeios de lancha e jet-ski.

ENQUANTO ISSO, NA ULBRA...


Como é que é essa história da mantenedora ter sede numa oficina mecânica e o presidente não saber de nada, nadica de nada mesmo do que já vem acontecendo há anos?

TÁ CHOVENDO


R$ 118.651,20 é o quanto a viúva do senador Jefferson Péres (PDT-AM) recebeu de presente do povo brasileiro, por conta das passagens aéreas a que seu falecido marido teria direito entre janeiro e abril de 2008. O pagamento foi autorizado pelo então presidente do senado Garibaldi Alves (PMDB-RN).

Em entrevista à Folha de São Paulo, a viúva (uma juíza estadual aposentada) argumentou que o Senado "tem tanto desperdício de dinheiro público", que o pagamento a ela não pode ser considerado ilegal, pois a cota de passagem era do seu marido e, portanto, lhe pertencia.

Ah, é, cara-pálida?!

E nós aqui, pagando imposto... Cara de palhaço, pinta de palhaço...

O MUNDO EM QUE VIVEMOS



Enquanto a rapaziada do Pirate Bay vai amargar um ano de xilindró por "promover a quebra de direitos autorais", os canalhas que botaram o planeta nesta (mal)dita crise que já está custando vidas e ainda vai matar milhares de pessoas - particularmente crianças no terceiro mundo -, seguem à solta.

Pior: volta a crescer o apetite do (mal)dito mercado pelos "papéis de risco".

16 de abr. de 2009

DURA DE MATAR


Depois de anos de sofrimento, o bósnio Miroslav Miljici resolveu dar um fim ao martírio imposto pelas "calúnias" da sogra.

Primeiro, explodiu a casa da velha com um míssil anti-tanque e em seguida, por garantia, descarregou sua metralhadora.

Pra provar que vaso ruim não quebra mesmo, a danada sobreviveu.

Como prêmio, este outro Miroslav (esse nome deve ter um karma mesmo) vai amargar seis anos de xilindró.

Achei a pena leve: eu tascava uns 10 pela tentativa e outros 30 pela incompetência.

O ELEFANTE GAY


Polêmica no zoológico de Poznan, na polônia.

Acontece que o paquiderme acima (de costas, no centro da foto) exibe tendências homossexuais, preferindo a intimidade com outros machos às fêmeas.

Não pagamos 37 milhões de zlots (11 milhões de dólares) para que a maior casa de elefantes da Europa tenha um elefante gay vivendo lá - protesta o conservador Michal Grzes, do alto de sua incontestável autoridade moral pequeno-burguesa.

Do outro lado, o diretor do zoológico parte em defesa do elefante, argumentando que aos 10 anos de idade, Ninio (o paquiderme em questão) ainda é muito jovem para saber se prefere machos ou fêmeas, já que os elefantes só alcançam a maturidade sexual aos 14 anos.

Só falta descobrirem que Ninio também é fumante... aí sim a casa cai.

E tenho o dito.